Na semana passada me cadastrei em uma agência de figurantes. Eu não estava trabalhando, era um dinheirinho fácil e eu poderia entrar em contato com a indústria cinematográfica local. Pois bem, essa semana me chamaram e hoje fiz meu primeiro trabalho no Canadá.
A figuração foi no piloto de uma série para a TV chamado V. Como é piloto, pode ser que nem vingue e nunca seja lançado.
Pelo que ouvi do diálogo dos atores e pela breve sinopse das cenas em que participei, V seria de Visitors, aliens que estariam chegando na Terra. Enfim, mais uma série de aliens…
Acordei cedo e fui para meu primeiro (e único) dia de trabalho. A primeira dificuldade foi descobrir o lugar. E não fui só eu que tive esse problema. Na gincana para encontrar a tenda na qual deveria me apresentar, encontrei 3 outros figurantes. Achamos juntos o caminho.
Durante o trajeto, começamos a conversar. Uma das garotas era a mais simpática e fui falando em inglês com ela. Lá pelas tantas, quase chegando, veio o papo de onde você é. Ela era brasileira também. A partir daí passamos a falar em português mesmo.
Chegamos na tenda dos figurantes para assinar o contrato. Uma fila meio confusa. Outra fila meio confusa depois para o departamento de arte do projeto. Tínhamos que levar duas mudas de roupa, mais a que estávamos vestindo. Para mim, pediram para levar roupas de casual a negócios. A história se passa em Nova Iorque.
Aprovado o figurino, pegamos o ônibus até a igreja anglicana em que seria a gravação. O lugar destinado aos figurantes era o porão, um salão enorme e cheio de mesas. A equipe da série nos instruiu para sentar e esperar. Tinha uma mesa com sanduíches e petiscos. Enchi um copo com amêndoas, outro com M&Ms e sentei.
Eram umas duzentas pessoas. De tempos em tempos alguém gritava para fazermos silêncio porque uma cena estava sendo gravada no andar de cima.
Até que chegou a nossa hora. Subimos. Fiquei num dos bancos da parte de trás da igreja. Todos se sentaram. Dali a pouco veio um dos assistentes de direção, apontou para umas quatro e pessoas e para mim. Mandou-nos para a primeira fila.
Lá fui eu. Primeira fila. Mas no canto. Onde provavelmente não aparecerei na tela. O lado bom é que tinha o monitor na minha frente e dava para ver o que estavam gravando.
A primeira cena eram dois padres vindo do corredor conversando e dando de cara com a igreja lotada. Primeiro os padres de frente. Depois os padres por trás. Como se fosse o ponto de vista dos padres. Só a reação da platéia.
Voltamos para gravar o sermão de um dos padres sobre a chegada dos aliens (Visitors). Seguiu-se o mesmo esquema da outra cena. Muitas repetições do sermão. Praticamente deu para decorar o texto. O ator estava bem humorado. Fazia de vez em quando algumas gracinhas.
E foi isso. Seis horas e meia de trabalho fácil, mais meia hora de um almoço de graça.
Para completar, ainda teve algo inusitado no caminho de volta. Fomos conversando eu, a brasileira e um canadense. Lá pelo meio da conversa, o cara sem mais nem menos virou e falou, como se falasse bom dia, que vende drogas. Assim, do nada. Gratuitamente. Até me assustei de tão do nada que foi.